sábado, 24 de abril de 2010

Castro


Fazenda Capão Alto
Única construção de taipa de pilão que sobrou no Paraná, o casarão central da Fazenda Capão Alto é sem dúvida uma importante amostra da arquitetura colonial brasileira. Desde minha graduação em História tinha o interesse em conhecer este lugar, uma professora até tentou certa vez programar um passeio, mas não foi possível. Em 2009 conseguimos finalmente visitar esta fazenda. Caminho dos tropeiros nos séculos XVIII, a fazenda possuía uma localização estratégica e pertenceu aos carmelitas que além de suas funções religiosas, comercializavam o gado de Laguna até São Paulo. Todo o trabalho era feito pelos escravos, hoje é possível identificar as ruínas da senzala e do cemitério da fazenda. Era costume por volta de 1770 que fosse designado um administrador para a fazenda, chamado de fazendeiro e por vezes um escravo exercia esta função. Na Capão Alto foi assim, e não era uma excessão, o que chama atenção em relação a esta fazenda é o fato de que os escravos ficaram um século sob administração dos escravos que se diziam escravos de "Sinhara", ou seja, Nossa Senhora do Carmo, padroeira da fazenda que tinha uma imagem da santa em sua capela. Desta forma, eles acreditavam que estavam cuidando dos bens da santa e todo a adminstração e comércio da fazenda eram destinados a conservar o patrimônio da santa, sendo que os desvios de conduta eram punidos. Depois que deixaram a fazenda por conta dos escravos, os carmelitas a arrendaram a uma firma paulista e por volta de 1864 venderam efetivamente estes escravos. Apoiados na idéia de que eram escravos da santa, estes escravos se recusaram a ir para São Paulo. Mesmo com problemas de impostos não pagos, os novos donos conseguiram apoio da polícia e prenderam alguns escravos e levaram os outros à força, como maneira de dar o exemplo de repressão aos outros possíveis "quilombos" que surgissem nas mesmas condições da Capão Alto. Em 1870 a fazenda foi novamente vendida, para um importante latifundiário. Esta é a época de grande esplendor da fazenda, com mobiliário luxuoso, mas logo em seguida mudou para São Paulo e de residência de verão da família, a fazenda foi aos poucos perdendo importância. Com a decadência econômica da região, a fazenda foi vendida mais duas vezes e os últimos donos venderam todo o mobiliário original, infelizmente o poder público comprou o local muitos anos mais tarde, 1982. E isso é o que encontramos hoje, um local bem abandonado, sem o devido interesse histórico que merece. Não existem investimentos para transformar o casarão em atrativo turístico da região, o guia é o casiro local, um senhor cheio de boas intenções, mas sem nenhum preparo para receber visitantes. O interessante foi que ele nos contou que uma vez uma emissora de tv teve o interesse em fazer um programa sobre a rota dos tropeiros e fizeram com que os mesmos passassem na Capão Alto. De novo, possuímos tão poucos exemplares de arquitetura histórica em pé e não valorizamos o que sobrou, sendo que precisa um programa de tv para chamar a atenção e fazer uma reencenação fake do que poderia ser algo que realmente fizesse parte do calendário da região. Depois do passeio é impossível não sentir certa desolação em relação ao trato que o poder público dá para nosso patrimônio, lamentável.

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